Jornal das Autarquias | Outubro 2024 - Nº 204 - I Série

Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal da Nazaré

Manuel António Sequeira

J.A.- Tendo havido alteração nos resultado eleitorais autárquicas de 2017, o que pensa sobre isso?
P.C.- A democracia prevê a alternância do poder. Ainda assim, Portugal optou em 2017 por dar mais uma clara vitória ao PS, que conquistou 159 das câmaras municipais contra 79 do PSD, reforçando a sua hegemonia no poder local face a 2013.

J.A.-Qual a sua Opinião sobre o OE para 2018?
P.C.- A esta distância já muito se perdeu, já muito se diluiu das nossas mentes. Porém, recordo-me do alívio fiscal do IRS, um fator positivo para as famílias.

J.A.- Em relação ao relatório sobre os incêndios de Pedrogão Grande, qual a sua opinião?
P.C.- Trata-se de uma página negra no ordenamento florestal do distrito de leiria. Um momento onde se perderam 66 vidas fruto da má gestão do território. Passados sete anos a situação melhorou mais ainda longe do ideal.

J.A.-O aumento de desemprego gerou muita pobreza e, estando esse concelho inserido num dos distritos considerados de maior carência económica, como está essa autarquia a gerir esse problema?
P.C.- O problema do desemprego é transversal a todo o país. A Nazaré vive momentos altos e altos consoante a época do ano. Trata-se de um emprego sazonal que ajuda a esbater o dilema. O combate ao desemprego jovem é uma meta nossa. Estamos a ponderar mais medidas que venham a fixar jovens no concelho. É uma tarefa que só tem reflexos dentro de algum tempo. Vou trabalhando nesse sentido.

J.A-O que pensa sobre a violência doméstica, que ultimamente tem aumentado drasticamente, no nosso país, e qual a causa/efeito?
P.C.- A violência doméstica pode não ter aumentado. O que pode ter acontecido é que existem hoje meios de denúncia que dão maior visibilidade ao flagelo. Ainda bem que assim é. A componente social não pode ser descurada porque há sinais que têm de ser atacados.
A organização patriarcal das famílias conduz a uma submissão grande da mulher pelo homem. Na Nazaré essa vertente não se coloca porque a componente matriarcal ainda vigora em muitos lares. A par da violência física, a violência psicológica, que provavelmente não entrará nos rácios, atinge também valores intoleráveis que não devem ser desprezados.
Os efeitos têm sempre a ver com as marcas que deixam, quer a nível físico quer mesmo em termos pós-traumáticos.

J.A.-Que apoio presta a autarquia aos mais idosos?
P.C.- A gerontologia estima que existem apenas cerca 3% dos idosos nazarenos que se encontram em ERPI,s enquanto que cerca de 100% das crianças até aos três anos estão em creches. Há na verdade uma discrepância que tem de ser atacada com o apoio da criação de mais estruturas sociais que recebam a nossa população sénior. No concelho há passos a serem dados para esbater esse anátema.
Ao mesmo tempo o concelho da Nazaré disponibiliza ocupação aos seus nossos seniores, através dos projetos inscritos no modelo previsto pela Universidade Sénior. Uma das mais bem equipadas do país, com quatro polos dispersos pelas três freguesias do concelho.

J.A.-Qual o maior problema com que esse concelho se debate?
P.C.- O volume da dívida é algo que nos angustia há alguns anos. Trata-se de uma luta incessante porque, ao mesmo tempo que queremos ver baixar a dívida, queremos fazer investimento. Trata-se de um dilema que muitas vezes não podemos conciliar. Foi uma herança pesada que, com muito sacrifício, está a ser combatida.

J.A.-Que outros problemas necessitam de maior intervenção?
P.C.- O problema geomorfológico que impede a Nazaré de implementar mais zonas de estacionamento. A falta de parqueamento para receber quem nos visita é algo que nos preocupa.

J.A.-Que perspetivas tem para o futuro do concelho?
P.C.- Embora a Nazaré seja uma marca a nível mundial, só ultrapassada pelo Cristiano Ronaldo, reconhecimento que advém das Ondas Gigantes da Praia do Norte, a intenção é manter esse desiderato porque sentimos tratar-se de uma boa forma de combater a sazonalidade, terb turismo durante todo o ano e alimentar a economia local a todos os níveis.
A aposta nos desportos de praia também ajudaram a catapultar a Nazaré para as bocas do mundo. Uma aposta ganha que deve continuar.

J.A.-Como é a situação financeira da autarquia?
P.C.- O constrangimento financeiro é algo que nos tem vindo a preocupar desde que assumimos a presidência do Município em 2013. Estamos em assistência financeira por parte do FAM. Uma situação que vigia a política de investimento e de desenvolvimento. Porém, o caminho trilhado está feito e dentro em breve atingiremos o limite de endividamento que nos permitirá baixar os impostos que sobrecarregam as nossas gentes.

J.A.-Qual o apoio que a câmara presta às juntas de freguesia?
P.C.- A Nazaré comporta três juntas. A relação de cordialidade institucional é uma realidade. Há competências delegadas e há sintonia total entre os municípios.

J.A.-Que mensagem quer enviar à população do seu concelho?
P.C.- Mantermos a Nazaré no topo da preferência de quem nos visita. A nossa imagem é o nosso produto.

J.A.-Como consegue gerir a absorvente vida de autarca com a vida familiar?
P.C.- Não há gestão possível. A vida autárquica absorve-nos na totalidade. As nossas famílias sabem que esta causa rouba imenso tempo à ligação familiar. Estamos todos no mesmo barco. O nosso trabalho é fruto do apoio das nossas famílias. Só assim se consegue.

J.A.-Que mensagem quer deixar ao Jornal das Autarquias?
P.C.- O jornalismo regional atingiu a sua expressão máxima após o 25 de abril. Os dois momentos estão interligados porque se sentiu a necessidade de alguém se transformar nos olhos e ouvidos das populações e fazer eco desses órgãos dos sentidos. Apesar das dificuldades estruturais que vão passando, os jornais regionais, dos o Jornal das Autarquias faz parte integrante, têm uma missão que não deve ser descurada.
Em frente com o vosso trabalho, que as populações agradecem.

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