Entrevista do Presidente da Junta de Freguesia Arcozelo de Barcelos

José Monteiro da Silva

J.A.- O turismo e o setor primário são valorizados nessa autarquia?
P.J.- O turismo é uma atividade sem muita expressão nesta freguesia. O setor primário também não pois esta é uma freguesia maioritariamente urbana. Assim, os setores com maior expressão são o secundário e o terciário.

J.A.- Cada dia que passa, a violência doméstica, tem se tornado um autêntico flagelo. As medidas já tomadas pelo governo contra a violência doméstica serão suficientes para atenuar esse flagelo?
P.J.- A medida mais eficaz no combate à violência doméstica será sempre a educação. Estas questões devem ser trabalhadas nas escolas e, sobretudo em casa. As crianças devem viver em ambientes seguros e o ideal é que tenham bons modelos parentais para que a violência doméstica nunca possa ser reproduzida. A formação de bons cidadãos contribuirá para uma sociedade mais atenta e ativa.
Ainda assim, toda e qualquer medida governamental neste domínio é bem-vinda.

J.A.- Esta situação está a tornar-se, quase um hábito, inclusive nos jovens em situação de namoro. Qual a vossa opinião?
P.J.- A violência no namoro é algo a que devemos estar atentos. Enquanto pais e educadores devemos acompanhar os nossos jovens e perceber as suas fragilidades pois é, muitas vezes, por causa delas e das suas inseguranças que surgem comportamentos de maior agressividade para com os pares.
A escola deve ser um ambiente seguro e com profissionais capazes para reconhecer e trabalhar com estas situações. É importante a formação continua quer de professores, auxiliares e técnicos especializados que sejam sensíveis a estas causas e que reajam em tempo útil. É preciso apoiar as vítimas e garantir que há consequências para os agressores.
Temos conhecimento de alguns projetos realizados nas escolas por associações locais cujo objetivo é a prevenção da violência no namoro. O nosso papel deve ser também divulgá-los e apoiá-los.

J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais vulneráveis (a vários níveis) nessa autarquia?
P.J.- As pessoas mais vulneráveis procuram-nos em busca de informação e encaminhamento, bens alimentares e apoio para medicamentos. Também se nota uma procura crescente por programas de esterilização de animais de companhia, fruto da crescente sensibilização para o tema.
Ainda assim, a nossa maior oferta tem a ver com a promoção de atividades para a população sénior. Temos mais de 120 pessoas a frequentar as nossas atividades desde Música, Ginástica, Hidroginástica, Oficina da Memória, Yoga, Instrumentos tradicionais. O nosso objetivo é que, para além do beneficio especifico de cada atividade, as pessoas possam aumentar as suas redes sociais de suporte e que tenham rotinas saudáveis. Por isso trabalhamos para criarmos mais turmas / mais atividades e chegar a mais pessoas.

J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, mesmo depois de terem sido tomadas novas medidas para regular a sua entrada no país. Qual a vossa opinião sobre este assunto?
P.J.- Temos de facto percebido que há cerca de 5 anos houve um aumento exponencial de imigrantes, sobretudo brasileiros. A realidade é que não temos nenhuma forma de contabilização ou controlo e apenas somos procurados a fim de agilizar documentos como atestados de residência. Por norma vêm para casa de outros imigrantes e desconhecemos as reais situações de habitabilidade. Relativamente às condições de trabalho, naturalmente desconhecemos também. Sabemos que o município de Barcelos tem um Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes, o que nos parece fazer bastante sentido. Relativamente às medidas tomadas pelo governo, elas visam equilibrar a segurança, a integração social e o desenvolvimento económico. Algumas pessoas acreditam que essas medidas são necessárias para garantir a ordem e a segurança, enquanto outras defendem que devem ser mais flexíveis para promover a diversidade e a inclusão. O debate sobre imigração é complexo e envolve muitos fatores, incluindo aspetos sociais, económicos e culturais. 

J.A.- O que pensa sobre as medidas que o governo quer implementar sobre o parque da habitação?
P.J.- A subida abrupta e constante das taxas de juro resultante da política do Banco Central Europeu (BCE) transformou-se em Portugal num dos grandes problemas, se não mesmo o maior problema que as famílias enfrentam.
Do mesmo modo, a falta de oferta no que respeita ao arrendamento fruto também da crescente imigração também levou ao aumento exponencial das rendas das casas. Todas as medidas que possam beneficiar as famílias são bem-vindas, no entanto, sabemos que são medidas que promovem a dependência das famílias e que não lhes trazem autonomia nem um aumento real do poder de compra.

J.A.- Os preços dos bens alimentares cada vez estão mais caros. Acha que as medidas tomadas pelo Governo serão suficientes?
P.J.- Ainda assim, as pensões são muito baixas e há uma grande franja da população que acaba por estar condenada à pobreza. Destacamos aqui o papel das instituições que atuam neste sentido, incluindo a Junta de freguesia de Arcozelo que todos os meses ajuda 40 famílias com cabazes de mercearia e senhas de talho. No Natal este ano serão atribuídos 80 cabazes a famílias carenciadas.

J.A.- Com as tempestades ocorridas neste Inverno, como reagir com as inundações resultantes das derrocadas provocadas pela degradação dos terrenos?
P.J.- A nossa freguesia é maioritariamente urbana e felizmente não sofreu com essa situação.

J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
P.J.- Os problemas mais prementes relacionam-se, sem dúvida com a habitação. Há cada vez mais casos de atualizações de rendas que as pessoas não conseguem comportar. A oferta ao nível do arrendamento é inexistente ou com preços proibitivos. Há outros problemas na freguesia relacionados com o ambiente e a falta de consciência ambiental, sendo por vezes os nossos funcionários a desempenhar o papel que compete a cada cidadão. Ainda na questão ambiental, mantém o abandono de viaturas na via pública e deposição de monstros domésticos também na via pública, quando o Município tem um serviço gratuito de recolha dos mesmos.

J.A.- Como está a situação financeira da autarquia neste mandato?
P.J.- A situação financeira desta freguesia está como sempre esteve: sem dividas a empresas ou fornecedores e com um elevado nível de investimento na freguesia, quer ao nível das obras, quer ao nível das pessoas. As nossas necessidades relacionam-se com a falta de apoio especifico para contratação efetiva de cantoneiros e outros funcionários necessários para um melhor funcionamento da Junta de Freguesia.

J.A.- Qual o apoio que recebe da Câmara Municipal esta Junta de Freguesia?
P.J.- O apoio que a Junta de Freguesia recebe é o correspondente ao Protocolo interadministrativo que é cerca de 240.000 euros por ano. Além disso, recebe pontualmente outros subsídios que sejam excecionalmente solicitados.

J.A.- Que mensagem quer passar à população da sua freguesia?
P.J.- A mensagem que quero passar à população de Arcozelo é que esta Junta de freguesia trabalha numa lógica de proximidade e que é composta por uma equipa sólida e capaz. Estamos ao dispor da população para ajudar a resolver os seus problemas ou encaminhá-los para as entidades competentes.

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