Jornal das Autarquias | Fevereiro 2025 - Nº 208 - I Série

Entrevista ao Presidente da Junta de Freguesia de Alte

António Francisco Ferreira Martins

J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
P.J.- O turismo e a agricultura/silvicultura são as principais atividades económica na freguesia.
Alte recebe cerca de 100 000 visitantes por ano, sendo, muito provavelmente, a aldeia do interior algarvio com maior número de turistas.
Longe da praia, os turistas são atraídos a Alte pelo seu património natural (praia fluvial, sítio das Fontes, cascata do Vigário e as paisagens típicas da serra algarvia), património edificado (igreja matriz, casco urbano típico e bem conservado), gastronomia e artesanato (do qual podemos destacar os trabalhos em esparto, latoaria e os brinquedos de madeira).
A Junta de Freguesia tem investido bastante neste sector, quer apoiando os operadores turísticos e hoteleiros, quer criando novos motivos de atração como os projetos de arte urbana (A sede da Freguesia é uma das aldeias do país com mais intervenções artísticas), a Casa do Esparto, nas Sarnadas, a Casa do Artesão, em Alte, ou o sítio da Senhora da Serra, nas Águas Frias. Também tem patrocinado a criação de percursos pedestres e cicláveis e elaborado novos mapas turísticos da Freguesia e vídeos promocionais nas redes sociais. O desenvolvimento do turismo sustentável é um dos eixos fundamentais do programa do atual executivo.
A recente candidatura do Geoparque Algarvienses a património natural da Unesco vem valorizar ainda mais este território.
Outro dos motivos que trazem muitos visitantes a Alte são as festividades, das quais é justo destacar o incontornável Carnaval (um dos mais antigos e genuínos do Algarve) e a Semana de Artes e Culturas.
No que concerne o turismo, o “calcanhar de Aquiles” é mesmo o alojamento, com um número de camas muito inferior à procura.
Quanto à agricultura/ silvicultura, Em Alte produzem-se citrinos, alfarroba, aguardente de medronho, mel, amêndoas e cortiça.

J.A- Cada dia que passa, a violência doméstica, tem se tornado um autêntico flagelo. Quais as medidas poderão ser tomadas para que o mesmo seja atenuado?
P.J.- No que diz respeito a esta freguesia, têm-se promovido ações de esclarecimento junto, sobretudo da população feminina e sempre que há conhecimento de casos de violência doméstica a Junta de freguesia é a primeira a denunciar junto das autoridades.

J.A.- Esta situação está a tornar-se, quase como um hábito, inclusive nos jovens em situação de namoro. Qual a vossa opinião?
P.J.- Na verdade, não me parece que a situação esteja pior do que sempre foi. É agora mais visível devido ao facto de se ter tornado crime público.
Só por via da educação, por um lado, e denúncia formal dos casos existentes é que o problema pode ser solucionado.

J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais enfraquecidas (a vários níveis) nessa autarquia?
P.J.- Essencialmente, necessitam de alojamento social e apoio alimentar.

J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, mesmo depois terem sido tomadas novas medidas para regular a sua entrada no Pais. Qual a Vossa opinião sobre este assunto?
P.J.- Os imigrantes são bem-vindos a Alte, pois são essenciais ao funcionamento da economia e ao repovoamento de um território muito envelhecido e desertificado. Concordamos com alguma regulamentação para a entrada de migrantes, mas não podemos esquecer que as estatísticas dizem que Portugal precisa ainda de mais 100000 imigrantes para fazer face à carência de mão de obra e que os estes contribuem sete vezes mais do que recebem para a segurança social. Por isto as regras devem ser ágeis e os procedimentos de regularização rápidos e eficientes. Por questões humanitárias, os processos de reunificação de famílias devem ser céleres. As empresas que trazem emigrantes, sobretudo para a agricultura, deveriam ser responsáveis pelo seu repatriamento no caso de estes ficarem sem trabalho.

J.A.- O que pensa sobre as medidas que o Governo quer implementar sobre o parque habitacional?
P.J.- A última legislação que altera a lei dos solos para que se possa construir, se bem fiscalizada, pode ser muito importante para fazer face aos constrangimentos á construção de habitação no nosso território (maioritariamente de terrenos agrícolas e de reserva ecológica).

J.A.- Os preços dos bens alimentares e outros, cada vez estão mais altos. Que medidas acha que o Governo deve tomar?
P.J.- Boa questão… o aumento do preço dos bens alimentares é, realmente preocupante. Mas, não sei muito bem que medidas podem ser eficazes nesta situação. Apoiar as famílias com menos recursos, claro. Quanto ao resto… eventualmente acabar com as guerras (utopia, eu sei) e aumentar os salários em linha com a inflação. Talvez apostar na produção nacional sustentável.

J.A.- Com os incêndios que lavraram este verão, como reagir com as inundações resultante das derrocadas provocadas pela degradação dos terrenos?
P.J.- Tanto os bombeiros como a proteção civil, a Câmara municipal e as juntas de freguesia, com o apoio das associações de caçadores têm realizado um trabalho notável na nossa freguesia no que diz respeito à diminuição do impacto dos incêndios e da área ardida.
Já no que diz respeito às inundações e degradação de terrenos só se resolvem com uma limpeza eficaz e contínua das linhas de água e um programa de reflorestação das vertentes com árvores autóctones.

J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
P.J.- Abastecimento domiciliário de água e saneamento básico. Habitação a preços aceitáveis. Mais alojamento para turistas, seja em AL, hotéis ou mesmo parques de campismo/ caravanismo.

J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste mandato?
P.J.- Boa.

J.A.-Qual o apoio que a câmara municipal presta às juntas de freguesia?
P.J.- O relacionamento das Juntas com a Câmara Municipal é bastante bom, tendo esta última aumentado muito as transferências para as juntas, nomeadamente com recurso a contratos interadministrativos para execução de obras essenciais às Freguesias.
Por outro lado, a Câmara municipal de Loulé possui um gabinete de apoio às freguesias que está sempre disponível para ajudar e servir de “ponte” entre as juntas e a Câmara.

J.A.-Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia?
P.J.- A Junta de freguesia é a a vossa voz e o vosso interlocutor para todos os assuntos e problemas que vos surjam.
Estamos sempre disponíveis para vos ouvir e ajudar. Seja nos problemas estruturais do nosso território (abastecimento de água, estradas, saneamento básico e comunicações), seja nas dificuldades de cada um.
Ás vezes, as coisas demoram mais do que todos queríamos para serem resolvidas, mas podem ter a certeza que nunca vos abandonamos e que estaremos sempre ao vosso lado. Todos os dias melhoramos os nossos serviços para melhorarmos as condições de vida de cada um dos nossos fregueses. Obrigado pela confiança.

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