Entrevista do Presidente da União de Freguesias de Carvoeira e Carmões

Nuno Pinto

J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
PUF- A União das Freguesias de Carvoeira e Carmões valoriza os vários setores de atividade, uma vez que desempenham ações complementares no desenvolvimento do território. O setor primário é o que tem maior presença neste território, movido pela viticultura. Destaca-se um sólido conjunto de Quintas e de marcas de vinho, reconhecidas a nível nacional e internacional. Inclusivamente, existem marcas com sede noutras regiões do país que têm na nossa freguesia alguma das suas vinhas, pela qualidade que os solos oferecem. A agricultura é, portanto, um fator-chave da nossa economia, tendo um percurso histórico e cultural muito presente na nossa identidade, continuando por isso a merecer a maior atenção.
Quanto ao turismo, é um setor que tem sido explorado mais recentemente, e que deve aproveitar os melhores recursos de cada território. No caso desta freguesia, deve relacionar-se com o setor primário e com a cultura da vinha e do vinho, cujos produtos têm sido promovidos em todas as atividades dinamizadas pela Junta de Freguesia. Outra das valências são as paisagens rurais, entre as vinhas, quintas e moinhos característicos, que têm sido promovidas através da criação da Rota dos Baloiços. O EcoParque é outro dos pontos atrativos da freguesia, que tem sido desenvolvido também como promotor do turismo: atualmente já inclui uma pista multidesportiva, um parque aventura infantil, um parque de merendas e um parque canino, oferendo um espaço de desporto e lazer diversificado em ambiente natural.

J.A-As medidas já tomadas pelo Governo contra a violência doméstica, serão suficientes para atenuar esse flagelo?
PUF- A violência doméstica é um problema complexo. Para que as leis que punem os agressores sejam aplicadas, é preciso primeiro que os casos sejam detetados. A Junta de Freguesia tem aqui um importante papel de proximidade, sendo o agente público mais próximo das populações. Esta freguesia dispõe de dois balcões de atendimento, aos quais as pessoas recorrem para inúmeras funções. Além disso, desenvolve uma estreita relação com a Associação de Socorros, que neste momento agrega uma forte responsabilidade social na freguesia, uma vez que é a instituição que presta os serviços sociais. A Junta tem também uma psicóloga que trabalha em articulação tanto com a Associação como com as escolas da freguesia. Sendo uma freguesia rural, apesar do território ser disperso, é composto por meios pequenos em que as pessoas se conhecem umas às outras, havendo fortes relações de vizinhança. Os serviços ao domicílio, os serviços de transporte e as próprias atividades promovidas pela Junta de forma descentralizada contribuem também para fortalecer essa proximidade da comunidade e para reforçar a confiança nos órgãos públicos, facilitando a deteção de possíveis casos.

J.A.-Como encara a violência nas escolas?
PUF- A crescente violência nas escolas é também fruto da mudança dos modos de vida, da virtualização das relações pessoais e da decrescente importância que é dada à transmissão de valores cívicos. As escolas têm aqui um papel fundamental, sendo a única alternativa à ausência de educação familiar/que vem de casa. Os próprios professores e auxiliares devem ser alertados para situações inadequadas e trabalhar em colaboração para ultrapassar situações mais problemáticas. A comunicação e o diálogo com as famílias e encarregados de educação é também essencial para a promoção de formas de educação positivas e frutíferas.

J.A.- Existem cada vez mais maus tratos, tanto em adultos como em crianças, incluindo violações. Quer falar sobre o assunto?
PUF- No seguimento das questões anteriores, este é um assunto complexo que exige a articulação entre vários fatores. A educação nas escolas, as condições de trabalho dos pais e o ambiente familiar são talvez as componentes mais importantes, nas quais nem sempre é possível intervir. O papel de uma Junta de Freguesia, para além da referida política de proximidade, é sensibilizar a população e estar atenta a possíveis casos, encaminhando-os para as entidades responsáveis. Este é, aliás, um papel que todos os cidadãos deviam ter, só assim será possível um combate efetivo a este tipo de situações.

J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais enfraquecidas (a vários níveis) nessa autarquia?
PUF- As necessidades nesta autarquia passam principalmente pelo apoio através de serviços ao domicílio, uma vez que existem muitos idosos que moram sozinhos, muitas vezes com baixas reformas e em habitações antigas que já não têm grandes condições. Uma vez que os transportes públicos são um fator deficitário em muitas localidades desta freguesia, a falta de recursos que não permita sustentar um carro também se revela uma dificuldade que limita as oportunidades neste território, daí a grande dificuldade em fixar a população jovem.
Está a ser desenvolvido o Gabinete de Apoio Social na freguesia, em articulação com a Associação de Socorros, que, numa das funções, pretende colmatar as necessidades relacionados com os bens de primeira necessidade. Criou-se o roupeiro e a mercearia das uvas, que disponibilizam bens de primeira necessidade à população, conforme as necessidades previamente avaliadas.

J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, quais as medidas que foram tomadas’
PUF- A principal medida em relação a imigrantes é tratá-los como os restantes cidadãos e integrá-los nos serviços públicos existentes. Muitos pedem esclarecimento e informações na Junta de Freguesia e os funcionários auxiliam nos procedimentos, dentro das duas possibilidades. As escolas também têm acolhido muitos imigrantes, principalmente brasileiros, que têm chegado a esta freguesia. A inclusão é feita ao tratar todos com igualdade, respeito e integrando-os nas dinâmicas naturais sociais da comunidade.

J.A.- Que medidas pensa tomar durante este novo mandato?
PUF- Ao longo da minha função executiva tenho perspetivado o desenvolvimento da freguesia no seu todo, de forma integrada. Houve a necessidade de realizar um estudo, o qual foi terminado este ano e contém dois volumes: o primeiro corresponde à caracterização/diagnóstico do território e o segundo apresenta um sólido conjunto de propostas nos domínios territorial, urbano e social. Este programa guiará as políticas a implementar nos próximos tempos, sendo necessário definir prioridades, tendo sempre em vista o desenvolvimento da freguesia, o combate ao seu envelhecimento e a criação de melhores condições de vida através da dinamização económica, social e cultural.

J.A.- Devido à seca extrema que se passou no Pais durante o Verão, e agora o mau tempo que estamos a atravessar, indique-nos como está essa região a reagir a este flagelo?
PUF- Esta região felizmente tem passado à margem dos problemas diretos causados pelas alterações climáticas, nomeadamente as cheias, uma vez que as concentrações urbanas não são densas. Quanto à seca, foi inevitável o maior consumo de água para rega de algumas culturas como aconteceu na agricultura a nível geral, o que se tentou compensar com outras medidas que promovessem o aproveitamento da água nas práticas diárias. Houve, por exemplo, a substituição de espécies intensivas em água nos espaços verdes, jardins e canteiros da freguesia e tem sido preocupação a sensibilização da população para a importância desta temática.

J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
PUF- A maior preocupação de momento tem sido a estagnação económica e social pela qual a freguesia está a atravessar. Os censos registam um processo de inversão da estrutura etária ao longo das últimas décadas, que demonstra uma forte tendência para o envelhecimento, o que é visível de dia para dia no quotidiano da freguesia. O comércio é cada vez menos, existe um número significativo de casas degradadas e abandonadas, as associações culturais e recreativas perdem vida e os jovens tendem cada vez mais a abandonar a sua terra mudando-se para as cidades onde o dinamismo é diferente. Portanto, é necessário inverter esta situação, tornando este território mais atrativo à fixação essencialmente dos jovens e promovendo uma desconcentração das áreas urbanas, evitando que a tendência se agrave, pois quanto mais tarde se intervir, mais difícil será a resolução do problema. Esta é uma freguesia interior do concelho, no entanto não deixa de ser um concelho litoral que tem boas acessibilidades.

J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste novo mandato?
PUF- A situação financeira da freguesia está estável, no entanto é necessária uma grande organização e contenção na aplicação dos custos, muito pela dimensão e dispersão que o território apresenta, sendo difícil chegar a todos os cantos da freguesia para um orçamento limitado. Limitado também no sentido em que se revela insuficiente para todos os projetos que haveria para implementar, requerendo-se uma execução e evolução mais controlada e moderada.

J.A.-A câmara presta apoio às juntas de freguesia?
PUF- Sim, a Câmara presta apoio, desde meios materiais e logísticos à implementação de iniciativas culturais descentralizadas pelo concelho. No entanto, nunca será demais reforçar esse apoio, nomeadamente promovendo um acompanhamento mais direto e uma comunicação efetiva com as freguesias, principalmente as freguesias do interior, que por terem menor número de população e uma dificuldade acrescida na dinamização económica e social parecem ser deixadas para segundo plano, havendo um foco das atenções nas freguesias perto da cidade e do litoral.

J.A.-Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia
PUF- Gostaria de transmitir que estamos a passar por um processo de mudança. O desenvolvimento faz-se com todos, e para que a freguesia tenha vida precisamos da envolvência de todos, tanto nas atividades que são proporcionadas, como no fazer compras nas mercearias, lojas e cafés da nossa freguesia, como no colocar os nossos filhos nas escolas da freguesia ao invés de os levar para a cidade… tudo isso contribui para a nossa freguesia. Temos condições e qualidade, queremos sempre melhorar e estamos abertos a sugestões construtivas. Como residentes, participem nesta caminhada. Queremos que todos façam parte.

J.A.- O Jornal das Autarquias existe desde 2007! Quer deixar-nos a sua opinião sobre o trabalho do mesmo?
PUF- O Jornal das Autarquias faz algo importante: dar voz ao nível local. Nos dias de hoje isso revela-se cada vez mais importante, porque são as autarquias que comunicam com as pessoas, que percebem as suas necessidades e que resolvem os seus problemas imediatos. Quero felicitar o vosso trabalho e agradecer por darem a oportunidade de comunicarmos o nosso. Obrigado.

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