Pedro Paulo Ramos Ferreira
J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
P.C.-No que se refere ao turismo, o Município de Torres Novas tem procurado tirar partido da sua centralidade no território bem como das excelentes acessibilidades de que dispomos, como fatores de atratividade, aliados ao seu vasto património material e imaterial. Foi também neste sentido que lançámos no último ano uma nova campanha de marketing turístico cujo mote é «Parte ao Encontro», manifestando uma ação que incentive tanto a população residente como os turistas a visitarem o concelho e descobrirem o património natural, cultural, histórico, gastronómico e etnográfico que Torres Novas tem para oferecer. Com esta iniciativa, o Município pretende aumentar o sentimento de pertença dos residentes como agentes individuais na promoção de Torres Novas enquanto destino turístico e aumentar as visitas de turistas ao concelho. Esta campanha surge na sequência do Plano Estratégico de Marketing Territorial, que envolveu o desenvolvimento da nova identidade visual, de um portal turístico, de um filme promocional e a produção de diversos suportes de comunicação online e above-the-line, além da decoração e melhorias no Posto de Turismo de Torres Novas.
Relativamente ao setor primário, não sendo o setor principal da economia do concelho, tem vindo a conhecer projetos de relevo e uma dinamização crescente, apesar das dificuldades que são transversais a todo o país. É um setor desafiante, que implica uma dedicação enorme e muito exposto a fatores externos e incontroláveis, como as condições climatéricas e os fenómenos extremos. Contudo, aproveito para destacar, a título de exemplo, o projeto em curso “Ouro Líquido”, em articulação com o Município de Alcanena, que tem como principal objetivo a promoção e valorização a nível nacional e internacional do azeite produzido na região, através do desenvolvimento de iniciativas conjuntas, nomeadamente eventos e projetos. Com este protocolo pretende-se ainda organizar, investigar e desenvolver todos os processos associados à produção do azeite, produzido através da azeitona galega, predominante na região. De referir que os concelhos de Torres Novas e de Alcanena têm mais de 20% do seu território composto por olival, o que evidencia a importância desta atividade, e que a variedade de azeitona galega, predominante no território em árvores com várias dezenas de anos, produz um azeite com elevado valor acrescentado e com potencial no mercado nacional e internacional.
Também no que se refere aos frutos secos, em particular ao figo, que é rei no nosso concelho, apesar de um passado recente em que o setor lutou muito para sobreviver, assistimos nos últimos anos ao surgimento de novos projetos e de jovens empreendedores que se têm unido para uma verdadeira dinamização do setor e reabilitação do figueiral torrejano, que tem propriedades únicas. E, para além da apanha e comercialização do figo em fresco e depois seco, verificámos também um crescimento exponencial de produtos derivados como os doces, as compotas, os licores, os figos em calda, bem como a criação de novos produtos comos os bombons de figo, e ainda a recuperação de tradições que já julgávamos perdidas, como a aguardente de figo ou os doces figuinhos de Torres Novas. O peso da atividade associada à exploração do figueiral, em simultâneo com o amendoal, o nogueiral e a vinha (passa de uva), deu origem à Feira Nacional dos Frutos Secos (FNFS) neste concelho, em 1986, e à Associação Nacional de Produtores de Frutos Secos e Passados (ANPFSP), em 1989. A feira constitui-se como uma importante forma de escoamento de produtos e de dinamização de um setor agrícola intrinsecamente ligado à história socioeconómica do concelho, e tem sido realizada de forma ininterrupta e com uma forte aposta na sua projeção.
J.A-As medidas já tomadas pelo Governo contra a violência doméstica, serão suficientes para atenuar esse flagelo?
P.C.-Todas as medidas que possam ser implementadas no sentido de eliminar todo e qualquer tipo de violência são de extrema importância. Nesta área não posso deixar de enaltecer o relevo do trabalho de proximidade que é efetuado pelas estruturas locais, nomeadamente através do Espaço M - Estrutura de Atendimento de Apoio à Vítima, que se destina a atender as vítimas de violência doméstica e todas as outras pessoas, que procurem apoio no âmbito da violência doméstica.
A Estrutura assegura um atendimento personalizado; a realização de diagnóstico das situações concretas das vítimas, desenvolvendo os esforços para serem asseguradas as condições essenciais face ao risco/perigo a que podem estar sujeitas; acompanhamento e ou encaminhamento das vítimas para a resposta adequada; informação adequada às vítimas, relativamente à tutela dos seus direitos, recursos e respostas; criação de condições para a inclusão, qualificação e ou reintegração das vítimas, de acordo com os seus interesses e potencialidades próprias.
J.A.-Como encara a violência nas escolas?
P.C.-Todas as formas de violência são condenáveis e preocupantes. Quando envolvem crianças, ainda para mais em ambiente escolar, temos mais que o dever, a obrigatoriedade de agir. Mas é de extrema importância o trabalho de prevenção, de sensibilização e consciencialização. É também por isso que contamos com o envolvimento de uma equipa de psicólogos que desenvolvem um trabalho de grande proximidade com os alunos, nas escolas do concelho.
J.A.- Existem cada vez mais maus tratos, tanto em adultos como em crianças, incluindo violações. Quer falar sobre o assunto?
P.C.-Novamente, todas as formas de violência são condenáveis e preocupantes. Felizmente, no nosso concelho, face ao acompanhamento que procuramos fazer junto da comunidade, não temos números significativos. Contudo, obviamente, um caso existente é um caso a mais do que gostaríamos que acontecesse e, nesse sentido, o grande objetivo é a inexistência total de situações. É para isso que trabalhamos diariamente.
J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, quais as medidas que foram tomadas. Temos verificado, cada vez mais, o aumento da imigração! Como reage às más condições, de trabalho e sustentação, que os mesmos estão ser tratados?
P.C.-Procuramos estar atentos a eventuais situações que não se coadunam com condições mínimas de trabalho, de habitação e de vivência, acompanhando e dando o seguimento possível a casos que surgiram. Felizmente em Torres Novas apenas temos registo de casos pontuais, que endereçamos de imediato. Mas, obviamente, os recursos são finitos e é preciso procurar soluções, no âmbito nacional, para que não haja uma «normalização» dessa realidade.
J.A.- Com a chegada das temperaturas elevadas, quais as medidas que foram tomadas para precaver o flagelo dos incêndios?
P.C.-Têm sido realizadas manutenções e aberturas de novas vias de emergências nas zonas do concelho mais vulneráveis aos incêndios florestais, bem como promovidas ações de sensibilização e limpeza de terrenos, de acordo com a lei.
Paralelamente, o Serviço Municipal de Proteção Civil de Torres Novas tem vindo a desenvolver um conjunto de ações que visam dar continuidade à promoção da resiliência da população ao risco, nomeadamente dos programas “Aldeia Segura” e “Pessoas Seguras” sempre em parceria com as Unidades Locais de Proteção Civil (ULPC) de Pedrogão, Zibreira, Meia Via e Riachos. Destaque ainda para o apoio financeiro prestado pela autarquia para que seja possível ao corpo da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Torrejanos integrar o DECIR (Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais).
J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
P.C.-De forma transversal a todo o país, também Torres Novas se debate com alguns problemas com habitação, que está já ser «combatido» através da Estratégia Local de Habitação, que identificou 75 agregados familiares a viver em situações indignas e verão as suas casas reabilitadas. Mas também a concretização de diversos projetos de habitação a custos controlados, alguns já aprovados e em curso, permitirá minimizar esta problemática.
J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste mandato?
P.C.-Apesar das incertezas que o quadro geopolítico mundial reserva, da readaptação pós pandemia e da transposição dos impactes diretos que o conflito no leste europeu provocou nas matérias-primas e que, de forma inevitável, resultaram num condicionamento da execução de alguns investimentos relevantes, posso afirmar que a situação financeira da autarquia se encontra estável e equilibrada.
J.A.-Qual o apoio que presta às juntas de freguesia?
P.C.-Existe uma estreita articulação entre o Município e as juntas de freguesia pois entendemos que só assim é possível uma verdadeira coesão territorial. De destacar que, no âmbito da transferência de competências para as freguesias, nomeadamente ao nível da gestão e manutenção de espaços verdes, limpeza de espaços públicos, entre outros, o Município de Torres Novas aloca cerca de 700 mil euros do seu orçamento anual para que as juntas possam fazer face a essas despesas. Paralelamente, desenvolvemos um plano anual de trabalhos, efetuados quer por administração direta quer através de empreitada, sobretudo ligados à requalificação da rede viária em todo o concelho.
J.A.-Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia?
P.C.-Gostaria de transmitir que continuo, como sempre, muito empenhado em concretizar projetos que visam a melhoria da sua qualidade de vida, numa estratégia de desenvolvimento do território, com a vista a um concelho cada vez mais dinâmico e onde vale muito a pena viver, trabalhar e investir.
J.A.- O Jornal das Autarquias existe desde 2007! Quer deixar-nos a sua opinião sobre o trabalho do mesmo?
P.C.-A divulgação do trabalho das autarquias assume-se de extrema importância pois permite promover uma maior proximidade entre estas e a população, disseminando informação sobre os seus programas e projetos. Nesse sentido, o Jornal das Autarquias está, claramente, de parabéns.