Aurélio Pedro Monteiro Ferreira
J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
P.C.- A Marinha Grande é uma cidade tecnológica no meio da natureza.
Cerca de 2/3 do território é ocupado com matas nacionais (3), sendo que o restante tem uma predominância de atividade industrial. A história da Marinha Grande remonta ao Séc. XIII, com a plantação do Pinhal do Rei pelo rei D. Afonso III, e aumentado substancialmente por D. Dinis. Só na segunda metade do Sec. XVIII, quando o Marquês de Pombal decide aqui instalar a indústria de vidro, este concelho deixou a componente agrícola para tornar-se num polo industrial. A indústria expandiu-se, ultrapassou o epiteto de capital do vidro, para juntar a indústria dos moldes e plásticos com uma componente fortemente exportadora, tendo hoje uma atividade muito reduzida no sector primário, mas estando voltada para a indústria e os serviços (engenharia, design, inovação, transportes, etc) que a suportam.
Quanto ao turismo, para alem do turismo industrial, temos a maior mata nacional (Pinhal do Rei) com mais de 11.000ha e cerca de 19 km de costa, com realce para as bonitas praias de S. Pedro de Moel e Praia da Vieira. Daqui releva para a importância do turismo, o turismo balnear e de natureza.
J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais enfraquecidas (a vários níveis) nessa autarquia?
P.C.- O nível de desenvolvimento económico no concelho, proporciona emprego a quem aqui deseja trabalhar e viver. Os valores de desemprego são inexpressivos e o concelho da Marinha Grande é o que tem maior rendimento per capita do distrito, acima da media nacional. Os cidadãos mais desfavorecidos são apoiados pela autarquia, que criou um Fundo de Coesão Social, para suportar quem momentaneamente precisa.
J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, mesmo depois terem sido tomadas novas medidas para regular a sua entrada no Pais. Qual a Vossa opinião sobre este assunto?
P.C.- A capacidade empregadora da Marinha Grande cria boas condições de vida aos cidadãos, que se reflete no recente nível de imigração. Chegaram pessoas de todos os quadrantes. Temos escolas com mais de 35 nacionalidades. A nossa comunidade tem recebido bem estes cidadãos e a autarquia tem programas de integração. Vai ser o novo normal, por isso, todos os cidadãos que vierem para trabalhar serão bem acolhidos e enquanto houver atividade económica para os receber, será um fator diferenciador e positivo.
J.A.- O que pensa sobre as medidas que o Governo quer implementar sobre o parque habitacional?
P.C.- A habitação (ou a falta dela) é um problema transversal ao país. As autarquias sentem necessidade de albergar os seus cidadãos, mas o desafio é enorme. O Governo deve tomar medidas adequadas para que todos os cidadãos possam ter onde habitar, tal como é preconizado na Constituição Portuguesa.
J.A.- Os preços dos bens alimentares e outros, cada vez estão mais altos. Que medidas acha que o Governo deve tomar?
J.A.- Com a chegada das temperaturas elevadas, quais as medidas que foram tomadas para precaver o flagelo dos incêndios?
P.C.- O nosso concelho foi dramaticamente fustigado com o forte incendio de 2017. Ardeu 95% do Pinhal do Rei, mais de 9.000ha, deixando órfãos todos os marinhenses. Vai demorar mais de meio seculo a reabilitação da mata de pinheiro-bravo, mas temos de arregaçar as mangas e começar desde já a trabalhar para esse desiderato.
As nossas equipas de Proteçao Civil e os nossos bombeiros, estão em permanente alerta, com planos de vigilância, que permitem atacar qualquer sinal de fumo. Lançamos no inicio da Primavera uma campanha de avisos à limpeza dos terrenos e áreas de segurança. Incrementámos nas nossas freguesias o programa “aldeia segura pessoas seguras”, para sensibilizar os municipes e prepará-los para um melhor desempenho de prevenção e ataque aos incêndios.
J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
P.C.- Necessitamos de construir infraestruturas básicas que não foram concretizadas ao longo das ultimas décadas, como exemplo: piscina municipal, variantes, centros escolares, habitação social, mercado.
J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste mandato?
P.C.- A Marinha Grande sempre teve situações financeiras estáveis, no entanto, nos últimos anos, com as delegações de competências, sobretudo da educação e saude, vimos agravar as despesas correntes. A transferência foi imposta sem a devida comparticipação financeira, e, apenas na educação, uma auditoria do Tribunal de Contas veio a identificar um deficit de 1,5 milhões de euros, que a autarquia teve de pagar, por o estado não ter feito a devida transferência
J.A.-Qual o apoio que a câmara municipal presta às juntas de freguesia?
P.C.- Mantemos uma relação estreita com as juntas de freguesias. Fizemos a transferência de competências, e contamos sempre como parceiros, no desenvolvimento do território e nos cidadãos que são de ambas as entidades.
J.A.-Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia?
P.C.- O exercício do Poder Local é, provavelmente, a maior conquista do 25 de abril. Acredito que cada euro investido pela autarquia é muito mais rentabilizado que pelo Estado, dado a proximidade e sobretudo o conhecimento que cada autarquia tem dos seus municipes. O desempenho autárquico deve ter em conta o desenvolvimento a medio e longo prazo do seu território e não apenas um período de 4 anos. Fazer um plano para uma década é a garantia da sustentabilidade da terra. Sempre que o pressuposto for de pensar e decidir apenas em função dum mandato, nunca haverá futuro. Reconheço que a política não se compadece com este estado de alma, mas todas as autarquias que têm uma longa estabilidade são mais desenvolvidos e correspondem aos anseios da sua população.
J.A.- O Jornal das Autarquias existe desde 2007! Quer deixar-nos a sua opinião sobre o
trabalho do mesmo?
P.C.- No pouco tempo que tenho autárquico, reconheço que não sou um conhecedor e leitor assíduo do Jornal das Autarquias. Entendi partilhar algumas opiniões, porque percebi o rigor e conhecimento sobre as autarquias, e caber-nos-á ajudarmos a fazer crescer a nossa imprensa, sobretudo a isenta, competente e participativa.