Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pêra

António Manuel Henriques Antunes

J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
P.C.-Nos contrafortes das serranias do Coentral e Lousã, seguindo o curso da Ribeira de Pera, Castanheira de Pera é um pequeno concelho, com aproximadamente 67 km2. Os solos são pedregosos com predominância do xisto e do afloramento granítico no Coentral. A agricultura sempre foi uma atividade de subsistência de base familiar, através do arroteamento e cultivo de pequenas leiras (minifúndio) nos solos mais férteis nas entranhas do vale junto aos cursos de água. Em contrapartida, a pastorícia foi uma atividade bastante importante no passado. As reses laníferas e a transformação das lãs marcaram o desenvolvimento da manufatura que, a partir de meados do século XIX, daria lugar à industrialização dos lanifícios. Hoje, já não vemos rebanhos na serra, servindo os pastos à proliferação da população livre de veados.
O despovoamento e o envelhecimento demográfico do território tiveram também impacto nas paisagens, através do abandono dos campos. Maior transformação no ordenamento paisagístico foi a expansão dos pinhais – estamos no Pinhal Interior Norte – em substituição da floresta e das culturas autóctones, com destaque para o castanheiro, e posterior monocultivo dos eucaliptais. Estas transformações teriam grande impacto na dinâmica económica e no emprego, registando-se o encurtamento da cadeia produtiva na mudança do pinho para o eucalipto, com o quase desaparecimento da resinagem e o encerramento de várias serrações e carpintarias no território. Por outro lado, aumentou o risco de incêndio…
Por este conjunto de circunstâncias e fatores, o setor primário tem merecido especial atenção do Município, com destaque para a qualificação da paisagem e a valorização dos produtos endógenos, numa visão integrada das políticas autárquicas em articulação com a promoção do turismo, nos seus vários segmentos e produtos, como sejam o turismo gastronómico e o turismo de natureza.

J.A.- Com a aproximação do tempo quente, Verão, quais as medidas qe foram tomadas para precaver o flagelo dos incêndios?
P.C.-Os fatídicos incêndios de 2017 fustigaram duramente este território, com o pesar das perdas humanas e o constrangimento dos avultados prejuízos materiais. O trabalho mais visível é o esforço contínuo na limpeza de bermas e gestão das faixas de combustível, com impacto significativo na alocação dos recursos financeiros e na gestão do pessoal da autarquia. O Serviço Municipal de Proteção Civil foi dotado dos mais importantes equipamentos de vigilância das florestas e reforçados os meios técnicos. Avançámos com candidaturas para a criação de AIGP (Áreas Integradas de Gestão da Paisagem) e de Condomínios de Aldeia, com o objetivo de diversificar o coberto florestal, valorizar a reintrodução de espécies autóctones e tornar as aldeias mais resilientes aos incêndios. A nível privado, destacamos o apoio da autarquia na implementação do projeto da Biond, que tem como a melhoria da rentabilidade da produção florestal, nomeadamente do eucalipto, através do desbaste e aproveitamento da biomassa, sem custos para os proprietários. A compra de um biotriturador pela autarquia, a ser disponibilizado ao uso da comunidade, teve ainda como objetivo ser uma alternativa à queima de sobrantes agrícolas por forma a reduzir o risco de incêndio florestal.

J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
P.C.-Castanheira de Pera sofreu ao longo das últimas décadas um intenso processo de desindustrialização, resultado do declínio da indústria de lanifícios, que teve como consequência o desemprego e a quebra dramática do efetivo demográfico, com perdas da população residente na ordem dos 15%. Hoje, o concelho tem menos de 3000 habitantes. A demografia é o principal desafio com que se depara a autarquia. É preciso atrair novas empresas e fixar novas famílias. Para tal, o município tem apostado na reconversão de antigos pavilhões industriais devolutos em novos condomínios empresariais. A criação de espaços coworking é outro segmento de potencial empregabilidade, a que se junta a experiência bem-sucedida da instalação de uma importante empresa na área das novas tecnologias de informação e comunicação e de contact center.

J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste novo mandato?
P.C.-O turismo tem sido a grande aposta da autarquia em resposta à falência da indústria de lanifícios, no aproveitamento dos recursos endógenos e da beleza natural da Serra do Coentral e Lousã e da Ribeira de Pera. A construção da Praia das Rocas, inaugurada em 2005, significou um grande esforço financeiro da autarquia, somando ao conjunto de outras obras que trouxeram novos traços de modernidade à vila. Como consequência do endividamento excessivo, o município foi submetido a um duro processo de reequilíbrio financeiro. Atualmente, em resultado de uma gestão racional e criteriosa dos recursos, Castanheira de Pera figura entre as autarquias que procedem ao pagamento pontual a fornecedores no zeloso cumprimento dos prazos junto de fornecedores e readquirir fôlego financeiro para empreender novos investimentos.

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