Lagaretas Medievais (produção de vinho)X

Castelo Branco

Nas imediações da Capela de S. Lourenço, no Palvarinho, pertencente à freguesia de Salgueiro do Campo, a cerca de 12 quilómetros da cidade de Castelo Branco, foram identificadas pela arqueóloga da Câmara Municipal de Castelo Branco, Sílvia Moreira, cerca de 20 lagaretas, ou seja, monumentos arqueológicos, escavados na rocha, utilizados no fabrico do vinho, a que a tradição popular chama pias ou lagariças dos mouros. As lagaretas encontram-se espalhadas por todo o país, particularmente em Trás-os-Montes, Beiras e nalgumas zonas de Espanha. Não se sabe se essa incidência corresponde a uma maior intensidade de cultivo da vinha ou apenas, a uma maior abundância do granito, uma rocha muito mais resistente à erosão do que as rochas dominantes no sul do país, como o calcário e o xisto. Segundo o historiador António Roxo, no séc. XIX, a freguesia de Salgueiro do Campo possuía cerca de 203 hectares de vinhedos, seguindo-se a freguesia de Castelo Branco com 162 hectares e Tinalhas com 120 hectares, o que demonstra que a região de Palvarinho terá tido grande importância na produção vinícola. As lagaretas podem apresentar várias dimensões, sugerindo uma certa evolução tecnológica ao longo dos séculos. A sua tipologia assenta em três partes essenciais: o piso, o pio e o prato. O piso é uma cavidade de forma trapezoidal, em regra com 2 ou 3 metros de comprimento, 40 a 50 cm de largura e 30 cm de profundidade, com uma ligeira inclinação no sentido do pio, com o qual comunica através de um orifício com cerca de 5 cm de diâmetro ou por um sulco com as mesmas dimensões. O pio é, em regra, mais pequeno e profundo e de forma poligonal ou circular. Disposto ao lado do piso encontra-se o prato, de superfície plana, de forma circular, com cerca de 1 metro de diâmetro que comunica com o pio através de vários sulcos abertos na rocha. O modo de funcionamento das lagaretas não deixa quaisquer dúvidas. No piso seriam deitadas e de seguida esmagadas as uvas com os pés. Devido à sua inclinação o mosto escorria facilmente para o pio onde era recolhido em cântaros de barro, sendo depois transportados para vasilhas maiores, onde ocorreria a fermentação. O prato serviria de base a um sistema de prensagem rudimentar, onde seriam prensados os bagaços provenientes do piso. Quanto à cronologia das lagaretas do Palvarinho remontam ao século XI/XII uma vez que apresentam características tipológicas mais sofisticadas como cavidades para fixação de estruturas de madeira e vários pratos. Outro dos elementos que nos conduzem a esta conclusão é a data de 1182 referente à Capela de S. Lourenço. Deste modo, a origem destas lagaretas coincide com a fundação da Capela de S. Lourenço, evidenciando um forte complemento cultural, social e religioso através do seu uso comunitário.