Fábrica da PólvoraX

Barcarena - Oeiras

Em 1988 encerra a sua actividade uma das mais antigas unidades de produção de pólvora negra do nosso País – a Fábrica da Pólvora de Barcarena. Uma extensa propriedade localizada no vale de Barcarena, com mais de 40 hectares, dá testemunho do ofício da pólvora negra num período que abarca cerca de 400 anos. Estruturas e equipamentos de inegável valor do domínio do património industrial ficaram sujeitos à degradação e ao abandono, em situação semelhante à de tantas outras unidades fabris que, chegadas a um ponto de ruptura, se viram obrigadas a pôr termo à sua actividade. Com o intuito de se preservar e perpetuar a memória do trabalho deste complexo fabril, a Câmara Municipal de Oeiras tomou a iniciativa de o adquirir à INDEP (Industrias de Defesa EP), e m 1994, para, após os primeiros trabalhos de recuperação o transformar num espaço especialmente vocacionado para o lazer e fruição cultural. Para tal, foi necessário reanimar os velhos edifícios que se dispersam pelo vale, sem esquecer contudo, a importância do seu passado. A ocupação deste vale para fins produtivos remonta aos finais do período quatrocentista quando foi necessário armar as naus das descobertas – Barcarena, terra afastada dos centros populacionais mas perto da capital e com abundância de água, foi o local escolhido para o acolhimento duma primitiva oficina para o fabrico de armas, instituída em 1487 por D. João II – as Ferrarias d’ El Rei – e é comum atribuir-se ao reinado de D. Manuel a engenhos de pilões para o fabrico da pólvora. No entanto, quanto ao fabrico de pólvora negra, no período indicado, a verificar-se, tratar-se-ia, certamente de uma pequena estrutura. A Fábrica da Pólvora que hoje identificamos deve-se à figura do Marquês de Alenquer – D. Diogo da Silva e Mendonça, Vice-Rei de Portugal entre 1617 e 1621, que terá encarregado o engenheiro-mor do reino, Leonardo Turriano, a projectar e a edificar uma casa onde foram instalados os primeiros moinhos para o fabrico de pólvora negra, cerca de 1618/19, que inauguraram com o revolucionário sistema de galgas. No entanto, nos últimos anos a degradação dos equipamentos, a grande explosão de 1972, que paralisou completamente o fabrico da pólvora negra, e a quebra da produção, tornaram insustentável esta enorme unidade industrial, que empregou gerações de famílias e condicionou a freguesia de Barcarena. A Fábrica da Pólvora de Barcarena terá constituído durante séculos um espaço aglutinador de população e a sua importância foi vital para o desenvolvimento socio-económico desta localidade, assim como o seu funcionamento também foi imprescindível em momentos da História de Portugal, particularmente quando se tornava urgente a necessidade da sua produção, de acordo com os objectivos nacionais.