Cidadela de CascaisX

Cascais

A Cidadela de Cascais é um monumento que poderemos designar por compósito, administrado por diferentes tutelas, que guarda memórias de muitos séculos e vivências diversas. A posição estratégica da vila de Cascais, num contexto de defesa da Barra do Tejo e da capital do reino levaram D. João II (r. 1481–1495), a ordenar a edificação da Torre de Santo António (também denominada Torre de Cascais). Concluída já no reinado de D. Manuel I (r. 1495–1521), a fortificação apresentava uma solução transitória entre o castelo medieval e a fortaleza marítima. Uma ampla esplanada voltada para a baía conferia-lhe simultaneamente funções de vigia para protecção das trocas comerciais e de marcação cenográfica do poder real e da jurisdição nacional. No seu interior, a Torre integrava um anexo para armazém e guarnições, uma capela – destruída no terramoto de 1755 –, duas cisternas (a principal sob a torre e muralha) e uma muralha exterior sobranceira ao mar. Apesar de já não ser possível encontrar estas estruturas na sua forma original devido ao abaluartamento da própria Torre, um olhar mais atento, e a informação obtida nas várias intervenções arqueológicas ali realizadas no final do século XX, permitem ainda hoje descobrir as marcas da primitiva estrutura militar. Desajustada das tácticas mais recentes e mal apetrechada de homens e de armas, a Torre de Cascais revelou-se muito vulnerável aquando da investida do exército espanhol, comandado pelo Duque de Alba, em 1580, constituindo um obstáculo de fácil transposição no caminho para a conquista de Lisboa. Depois de assumir o trono, Filipe I (r. 1581-1598) ordenou de imediato a reformulação da vulnerável fortificação, no que viria a tornar-se a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz. Ao contrário da anterior torre dotada de esplanada, a nova obra privilegiou uma planta triangular de relativo baixo custo, com dois vértices voltados para o mar, fosso circundante e acesso exclusivo por ponte levadiça. A estrutura envolveu a velha torre tardo-medieval, com três baluartes compostos por compartimentos abobadados providos de canhoeiras e poderosa construção exterior, com aparelho de grande dimensão e almofadado, disposto em rigorosas fiadas horizontais.