Inês Maria Varela Matos
J.A.- O turismo e o setor primário são valorizados nessa autarquia?
PUF.-O turismo, enquanto atividade económica, engloba um conjunto de atividades muito dependentes, não só das autarquias locais mas, também dos diferentes operadores turísticos que não passam apenas por ter o museu para visitar, o café ou o restaurante onde comer. O turismo, como verdadeira aposta para o crescimento de uma localidade, obriga à oferta de produtos diferenciadores, obriga à formação dos nossos operadores turísticos mas também o básico tem que estar garantido, as boas estradas de acesso, as infraestruturas para se circular em segurança e o bom alojamento onde ficar.
Acredito no potencial turístico de Santa Comba Dão mas penso que ainda falta muito para alcançarmos o patamar onde desejamos estar.
Dentro das suas atribuições, e curto orçamento, a Junta de Freguesia contribui com o que pode, na certeza de que este setor tem que ser olhado em conjunto, e não de forma isolada. É necessário as autarquias e operadores turísticos estarem em permanente contacto pois têm muito a aprender uns com os outros.
Quanto ao setor primário, para nós é mais vital pois deve apresentar-se hoje como algo mais do que o cultivo dos campos para produção de alimentos ou produção de matéria-prima. Os tempos que vivemos obrigam-nos a olhar para o setor primário e repensá-lo de forma estratégica, para futuro, e não apenas para prover a necessidades presentes. O setor primário é, e continuará a ser, o setor mais importante, sobretudo, num território como o nosso, por isso, deve ser sustentado e sustentável, e um importante ponto de partida para enfrentar as adversidades climáticas que já hoje vivemos.
J.A.- As medidas já tomadas pelo Governo contra a violência doméstica, serão suficientes para atenuar esse flagelo?
PUF.-A violência doméstica é, sem dúvida, um flagelo para o país. Os números devem envergonhar-nos a todos e demonstram que as políticas implementadas não estão a funcionar. No entanto, entendo que é uma matéria complexa, que exige um estudo aprofundado em várias áreas e, não estando capacitada para fazer essa reflexão, continuo a defender que se trata, essencialmente, de um problema cultural e educacional. Há, ainda, um longo caminho a fazer.
J.A.- Como encara a violência nas escolas?
PUF.-Com muita apreensão. Os nosso jovens são o nosso futuro e quando uma criança ingressa na escola já tem, praticamente, a sua personalidade formada. Se se comporta dessa forma, algo esteve muito errado para trás tendo em conta que a sua personalidade é fruto da genética mas também das experiências nessa fase da vida e da influência das figuras parentais. Como disse anteriormente, há um longo caminho a percorrer ainda.
J.A.- Existem cada vez mais maus tratos, tanto em adultos como em crianças, incluindo violações. Quer falar sobre o assunto?
PUF.-Não tenho a presunção que sei tudo acerca de tudo e esta, como já disse, é uma matéria complexa que deixo para os especialistas, por isso, não vou opinar só porque sim. É um assunto que continua a deixar-nos muito tristes e mesmo a chocar-nos. É um tema que exige a máxima atenção por parte de todos nós e nunca deve deixar-nos indiferentes. Denunciar todos estas situações o mais cedo possível, é crucial.
J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais enfraquecidas (a vários níveis) nessa autarquia?
PUF.-O interior do país está desprezado. O interior do país precisa dum ministério governamental que olhe para as características próprias deste território e não nos trate a todos por igual, como até aqui tem acontecido, porque o país não é todo igual. Precisamos desse ministério conduzido por uma liderança capaz, não uma liderança política saída dos quadros dos partidos políticos, sem qualquer competência para exercer funções tão exigentes. Defendo, inclusive, que esse ministério deve situar-se no interior do país pois só assim se terá a verdadeira perceção da realidade e se sentirão as dificuldades das nossas populações. Um território sem pessoas, com os campos abandonados, uma floresta desordenada, a população envelhecida, com uma taxa de natalidade baixíssima e sem incentivos à fixação da população, este é, resumidamente, o quadro geral do nosso território. A solidão mata e é assim que muitos dos nossos idosos se sentem, sozinhos, abandonados. Verbas que ajudem na compra de medicamentos, na ocupação e animação dos nossos seniores de modo a manterem-se ativos, verdadeiros incentivos à natalidade, verbas que incentivem à ocupação dos campos, mesmo que seja necessária a sua requalificação são, para mim, as principais necessidades das nossas populações mais enfraquecidas. Vale-nos, contudo, a enorme capacidade de resiliência das nossas gentes que, mesmo neste cenário, continuam a lutar por dias melhores.
J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, quais as medidas que foram tomadas?
PUF.-Temos recebido muito imigrantes, é verdade, e sabemos disso, não só pelas pessoas com que nos passámos a cruzar na rua no nosso dia a dia, mas também pelos atestados de residência que passamos. Parece-nos que estão integrados e não há nota de incidentes envolvendo imigrantes. Procuramos acolhê-los e disponibilizamo-nos para prestar a ajuda necessária, no entanto, notamos que as comunidades já existentes são o grande apoio aquando da chegada de muitos deles, o que lhes facilita a integração.
J.A.- O que pensa sobre as medidas que o Governo quer implementar sobre o parque da habitação?
PUF.-Penso que são políticas baseadas em pressupostos falsos e implementadas da forma mais errada possível.
J.A.- Os preços dos bens alimentares, cada vez estão mais caros. Quais medidas deverá tomar o Governo para colmatar esse flagelo?
PUF.-A política económica é complexa e em duas frases não posso resumir essa complexidade, no entanto, os preços dos bens alimentares, bens de primeira necessidade estão, de facto, a atingir níveis insustentáveis para muitas famílias quando o nível salarial e das pensões e reformas não acompanha essa subida, até porque nem pode acompanhar. Ao nível destes bens têm que ser tomadas medidas sim, e há formas de o fazer, cabendo a quem de direito, fazer as opções corretas, pois é o detentor de todos os dados necessários para avaliar as situações.
J.A.- Que medidas pensa tomar durante o seu mandato?
PUF.-Em territórios pequenos como o nosso, são os Municípios as autarquias mais direccionadas para prestar esse tipo de auxílios, nomeadamente, alimentares, tendo em conta toda a estrutura e meios humanos, já existente para o efeito, não obstante as Juntas de Freguesia serem um importantíssimo elemento nessa cadeia de conhecimento, para que a ajude chegue a todos, o mais rapidamente possível. Colaboramos, estreitamente, com o Município, com o Centro de Dia e Associações, no sentido de, mais rapidamente, conhecermos as situações de carência e as reportarmos, imediatamente, às entidades cuja logística já está montada para prestar este auxílio, com a garantia de que ninguém fica sem os bens de que necessita. Registar que também já foram prestados auxílios alimentares pela Junta de Freguesia para ultrapassar situações pontuais, e porque tal se mostrou absolutamente necessário.
J.A.- Com a aproximação do tempo quente, Verão, quais as medidas que foram tomadas para precaver o flagelo dos incêndios?
PUF.-A Junta de Freguesia da União das Freguesias em Março último, e à semelhança do que já tinha feito no ano passado, apresentou uma candidatura ao Fundo Ambiental, no programa “Condomínio da Aldeia”, que contempla três aldeias da nossa União das Freguesias, aldeias que nos parecem mais problemáticas em termos de acessos e de vegetação que as circunda. Pretende-se a reconversão dessas propriedades privadas, num perímetro à sua volta, de modo a reconverter esses terrenos, retirando as espécies invasores, recuperando poças, proceder ao arranjo de levadas, entre outras medidas que ajudarão a combater esse flagelo. Cumprir as regras durante este período, nomeadamente, não realizando queimas e queimadas é também uma grande ajuda, tendo em conta que a origem de muitos dos nossos incêndios está aí. Com vista ao cumprimento deste objetivo, Junta de Freguesia vai adquirir um terreno com vista à criação de um parque de sobrantes onde as pessoas poderão depositar as sobras das podas e limpezas de terrenos de modo a que o número de pedidos para queimas e queimadas diminua. Sensibilizar a população é outra missão que tentamos levar a cabo devido à proximidade que temos com a nossa população mas devido ao abandono dos campos, por parte dos mais idosos, que já não têm condições físicas nem financeiras para os amanhar e manter limpos, e à população jovem ser cada vez menor, a situação é muito preocupante.
J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
PUF.-Trabalho há sempre muito mas reconheço que o mais premente é fazer algo pela nossa população mais envelhecida e quando digo algo não me refiro a atividades pontuais, refiro-me a um conjunto de ações constantes, que se repitam e sejam melhoradas durante todo o ano, de modo a garantir que tenham uma vida mais ativa, mais acompanhada e mais feliz, não só em termos de animação mas, sobretudo em em termos de saúde com rastreios periódicos, protocolos de colaboração com farmácias e unidade de saúde familiar, isto é, pôr as várias entidades a trabalhar em conjunto para lidar com estas necessidades. Em teoria tudo isto já existe, era importante agora pôr tudo isto em prática, a bem do nosso futuro coletivo.
J.A.- Como está a situação financeira da autarquia neste novo mandato?
PUF.-A situação financeira da autarquia é estável, sem dívidas e com capacidade para dar resposta a todos os seus compromissos, no entanto, continuamos a queixar-nos do orçamento curto que gerimos anualmente, tendo em conta o enorme volume de trabalho por fazer.
J.A.- Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia?
PUF.-Que é com muito gosto que temos exercido estas funções, apesar de sabermos que há sempre muito mais para fazer. Que a ajuda da população tem sido primordial para o melhor desempenho das nossas funções pois os seus alertas e queixas ajudam-nos a dar importância ao que realmente importa e só assim faz sentido pois é para a população que trabalhamos. Acrescentar que estamos perante pessoas com uma capacidade de resiliência incrível mas também pessoas que estão muito disponíveis e motivadas para ajudar a sua terra, o que têm feito com a doação de material e disponibilidade para trabalhar pro bono. Todos juntos somos mais fortes e faremos, com certeza, a diferença.
J.A.- O Jornal das Autarquias existe desde 2017. Quer deixar-nos a sua opinião sobre o trabalho do mesmo?
PUF.-É um trabalho muito meritório pois só assim pequenas autarquias como esta, conseguem que a sua voz chegue mais longe, dando a conhecer o trabalho que fazemos.