Joaquim Manuel de Oliveira Dias
J.A.- O turismo e o sector primário são valorizados nessa autarquia?
J.F. - O setor primário foi, até a alguns anos atrás, o sector mais importante da economia montargilense. Aos poucos foi perdendo a sua importância e, neste momento, havendo só alguns sete ou oito agricultores, que se podem considerar como tal, com uma agricultura mecanizada, tem pouca relevância para a freguesia, até pelo número de pessoas que emprega.
O Turismo apresenta-se como a grande aposta futura desta região, devido às extraordinárias condições naturais existentes: beleza ímpar da albufeira, perfeita para a prática de desportos náuticos; paisagens maravilhosas da zona da serra, com trilhos devidamente identificados, para quem queira conhecer os recantos paradisíacos desta freguesia; hotelaria de excelência, parque de campismo e várias unidades de turismo rural.
De ano para ano é visível o aumento do número de visitantes. Na chamada época alta já não há oferta para tanta procura.
Para corresponder a esta nova exigência e, ao mesmo tempo, aproveitar esta oportunidade de negócio, estão já em fase de conclusão mais duas unidades hoteleiras e, existem, também, projetos já aprovados para a construção de três praias fluviais.
J.A-As medidas já tomadas pelo Governo contra a violência doméstica, serão suficientes para atenuar esse flagelo?
J.F. - A violência doméstica é fruto da nossa sociedade atual, que há já algum tempo perdeu os valores que vigoravam no passado. São exemplos desta situação, o conceito de família, a educação e o respeito pelo próximo.
Se as pessoas não tiverem uma educação, onde desde muito cedo se comece a implementar estes valores, não se pode esperar que estas estejam preparadas para assumirem o compromisso sério que é o casamento, e tudo o que esta união tem subjacente, como o respeito, a partilha, a amizade, a solidariedade, etc…
O trajeto que esta sociedade está a seguir, com a perda destes valores fundamentais, leva-nos a estas situações de desentendimento, de falta de respeito, de subjugação, que incentiva as pessoas a partirem para a violência. Infelizmente estes casos estão a acontecer cada vez com mais frequência, não só no seio do casamento como também em outras situações de partilha do mesmo teto.
Foram já tomadas algumas medidas que considero muito importantes, mas ainda há muito por fazer no que diz respeito a esta matéria.
J.A.-Como encara a violência nas escolas?
J.F. - As principais causas da delinquência infantil são o sistema educativo que vigora nos dias de hoje e a atual legislação, que, em meu entender, protege em demasia os jovens. O que era de mais no passado passou a ser de menos no presente.
Os jovens têm uma psicologia muito forte. Ao aperceberem-se desta superproteção, principalmente aqueles que não têm muito acompanhamento em casa, exploram esta situação, chegando a fazerem chantagem com os pais, encarregados de educação e professores.
Em minha opinião, este é um assunto muito sério, sobre o qual os nossos governantes se deveriam preocupar. Começarem por alterar a legislação e sensibilizarem os pais para uma correta e dedicada educação, pois esta tem de começar em casa.
J.A.- Existem cada vez mais maus tratos, tanto em adultos como em crianças, incluindo violações. Quer falar sobre o assunto?
J.F. - A violência gratuita que se está a gerar na nossa sociedade é mais uma das consequências da sociedade atual que tem vindo a perder os seus valores.
Eu considero-me um defensor dos ideais da revolução do 25 de abril, como a democracia, a liberdade, a igualdade, a fraternidade, etc., no entanto, tenho de chegar à triste conclusão de que não estamos preparados para viver em liberdade. Não nos podemos esquecer que todos temos direito a ela, mas que esta termina onde a dos outros começa. Este é um princípio fundamental em democracia.
A liberdade que adquirimos não foi para isto. Temos liberdade de expressão, temos um país mais justo, onde há mais igualdade, pelo menos em teoria, e não temos a liberdade de andar tranquilos porque pode aparecer alguém que nos faça mal ou à nossa família.
Mais uma vez digo que a nossa legislação tem de ser revista, nem que tenhamos de abdicar de alguma liberdade para termos mais segurança.
J.A.- Que recursos financeiros necessitam as populações mais enfraquecidas (a vários níveis) nessa autarquia?
J.F. - Esta autarquia presta diversos tipos de apoio à população mais envelhecida e/ou mais necessitada e com fracos recursos financeiros.
Começando pelo transporte, todas as semanas esta junta transporta os idosos e as pessoas com menos recursos, das três aldeias da freguesia para a vila de Montargil, para que estas possam ir ao Centro de Saúde, ao Correio, às compras, etc…
Transporta, de Montargil para Ponte de Sor, as pessoas que necessitam de ir à hidroginástica e que têm menos recursos.
Distribui cabazes de Natal pelas pessoas mais carenciadas, na proximidade desta quadra festiva e, pontualmente, presta ajuda alimentar a casos extremos, e/ou faz reencaminhamento dos mesmos para entidades competentes, como a Cruz Vermelha, a Cáritas e Segurança Social.
A Santa Casa da Misericórdia de Montargil também colabora nesta ajuda à população mais idosa, através das valências que tem em atividade, como o Lar, o Centro de Dia e o Apoio Domiciliário. Sendo este último de grande importância no que diz respeito ao apoio que dedica à população mais envelhecida, que vive mais longe da sede de freguesia e com menos apoio familiar.
J.A.- Como reagiu essa autarquia com a chegada de imigrantes, quais as medidas que foram tomadas. Temos verificado, cada vez mais, o aumento da imigração! Como reage às más condições, de trabalho e sustentação, que os mesmos estão ser tratados?
J.F.- Temos recebido imigrantes de diversos países na nossa freguesia. Numa primeira fase ucranianos e brasileiros e, ultimamente, tailandeses, nepaleses e indianos.
Nos casos que conhecemos as condições de trabalho são boas, são bem tratados e os locais onde vivem têm o mínimo de condições exigidas.
A sua maioria trabalha na hotelaria, na construção civil e na agricultura.
Neste momento as juntas de freguesia do concelho estão a fornecer ao município os dados referentes aos imigrantes e seus agregados familiar que vão entrando mensalmente no seu território, para controle dos cidadãos estrangeiros que vamos recebendo.
J.A.- O que pensa sobre as medidas que o Governo quer implementar sobre o parque da habitação?
J.F.- Tendo em conta a conjuntura atual, provocada quer pela subida da taxa de juros quer pelas rendas praticadas no mercado, na generalidade, estou de acordo com o pacote das medidas apresentadas pelo Governo para a habitação.
No entanto, não sei se estas medidas a implementar serão suficientes para resolver a atual situação, se terão a eficácia desejada e, até, se serão as mais adequadas nalguns casos.
J.A.- Os preços dos bens alimentares, cada vez estão mais caros. Acha que as medidas tomadas pelo Governo são suficientes?
J.F.- Penso que não serão suficientes, mas muito importantes para ajudar as famílias, principalmente as que têm menores rendimentos. Com estas medidas o Governo pretende reforçar os rendimentos compensando, assim, o impacto do aumento dos preços e a devolver o adicional de receita de imposto cobrado devido à inflação.
No entanto, penso que o Governo deveria ir mais além, implementar também medidas de combate à especulação, responsável em grande parte pela escalada de aumento dos preços que se tem vindo a verificar.
J.A.- Com a chegada das temperaturas elevadas, quais as medidas que foram tomadas para precaver o flagelo dos incêndios?
J.F. – Com o apoio do Município de Ponte de Sor e do seu departamento florestal foram efetuadas ações de sensibilização, aqui na freguesia, chamando a atenção da população para a limpeza dos terrenos e para os cuidados que devem ter quando fizerem queimas e queimadas.
Foram também informados da existência de uma plataforma informática, na qual tinham que fazer os registos das queimas e queimadas e a obtenção da autorização ou da não autorização, para efetuarem as mesmas. No caso de não conseguirem ou de não terem possibilidades de o fazerem em casa, a Junta de Freguesia está à disposição para fazê-lo.
Foram afixados diversos cartazes na sede da junta e em lugares públicos, no seguimento dessas ações de sensibilização.
Houve formação, a nível concelhio, sobre Kit`s de Incêndio, na qual estiveram presentes dois funcionários da junta. Temos o nosso, permanentemente cheio de água, pronto para intervir, sempre que for necessário.
J.A.- Que problemas mais prementes necessitam de intervenção rápida nessa autarquia?
J.F. - O maior problema com que esta freguesia se debate continua a ser o da criação de emprego para a fixação dos jovens.
A população montargilense está envelhecida, problema que é transversal às zonas do interior, devido à deslocação dos mais jovens para os grandes centros, onde há mais e melhor oferta de emprego.
Apesar do desemprego no concelho de Ponte de Sor andar em contraciclo há já alguns anos, mesmo quando o desemprego aumentava a nível nacional, no concelho diminuía. Isto graças às empresas que se instalaram no Aeródromo e na Zona Industrial, as quais trouxeram a criação de postos de trabalho, empregando população de todo o concelho.
Como já disse anteriormente, a principal aposta futura passa pela indústria do turismo, pelos motivos também já identificados, para a criação de postos de trabalho e consequentemente para a fixação dos jovens nesta localidade.
De alguns anos a esta parte já se vem notando um aumento de nascimentos na freguesia e um aumento de alunos inscritos na pré-primária e primeiro ciclo, que são sinais muito positivos daquilo que começa a acontecer, que é a fixação de alguns jovens residentes e outros que vêm de outras localidades, que se vão aqui fixando, fruto da oferta de emprego que começou a existir, devido aos Hotéis, Alojamentos Locais e Turismo Rural que têm vindo a iniciar a sua atividade nesta freguesia.
J.A.-Como está a situação financeira da autarquia neste mandato?
J.F. - A situação financeira desta freguesia é boa. Não tem dividas e não recorreu ao crédito.
Fruto de uma gestão rigorosa e de um grande controlo orçamental, vamos cumprindo com as nossas responsabilidades, sem nunca embarcarmos em loucuras.
É claro que gostaríamos que o nosso orçamento fosse mais elevado. Que o orçamento do estado comtemplasse as juntas de freguesia com verbas superiores às atuais. Só assim as juntas conseguiriam fazer mais obras e serem mais independentes. No atual cenário fazemos projetos, mas temos sempre que pedir apoio ao município para os concretizar.
Recorremos também a candidaturas para projetos que temos em vista para a freguesia, estando neste momento já na fase final, uma candidatura para o Mercado Local, no âmbito do Portugal 2020.
J.A.-Qual o apoio que recebe da câmara municipal às juntas de freguesia?
J.F. - A Câmara presta vários tipos de apoio às juntas do concelho:
Apoio financeiro, no âmbito das delegações de competências, umas que já existiam e outras que surgiram com o decreto-lei nº 57/2019, nos projetos que a junta lhe apresenta e nas grandes obras que foram efetuadas na vila, algumas das quais já foram referidas anteriormente;
Apoio financeiro e logístico, nas festas e restantes eventos que se vão realizando;
Apoio jurídico, fornecendo pareceres muito úteis para resolução de problemas que vão surgindo;
Disponibiliza, também, apoio técnico, em diversas áreas de atuação.
J.A.-Que mensagem quer transmitir à população da sua autarquia?
J.F. - A mensagem que quero deixar à população da minha freguesia é uma mensagem do querer e do acreditar. Montargil tem evoluído muito nos últimos anos a todos os níveis. Basta constatar as grandes obras que foram concretizadas, os melhoramentos que já foram efetuados a nível de estradas, de jardins e espaços verdes, na rede pública de abastecimento de águas, no investimento que está a ser feito na cultura e no desporto.
Acreditem nos projetos que o município e a junta têm para a freguesia, como é o caso das praias fluviais, nas duas novas unidades hoteleiras, em fase de acabamento, e na vontade que algumas empresas já demonstraram em investir na freguesia, em desportos náuticos, lazer e entretenimento.
J.A.- O Jornal das Autarquias existe desde 2007! Quer deixar-nos a sua opinião sobre o trabalho do mesmo?
J.F. - É com agrado que vejo a existência de um Jornal das Autarquias e dos fins a que o mesmo se destina.
Continuem o vosso trabalho, na promoção e difusão do Poder Local Democrático, na divulgação que fazem das autarquias, para que o público em geral passe a conhecê-las melhor, darem a possibilidade aos autarcas de exporem os seus projetos, de enunciarem os seus anseios, as suas expetativas, as suas sugestões e também os seus constrangimentos.